terça-feira, 18 de junho de 2013

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM: LEITURA DO CONTO “PAUSA” DE MOACYR SCLIAR



Público-alvo: 8ª série - 9º ano

Tempo previsto: 4 aulas

Conteúdos e temas: leitura do conto.

Competências e habilidades: desenvolver as capacidades de leitura (ativação de conhecimentos prévios; antecipação ou predição; checagem de hipóteses; localização de informações; comparação de informações; generalizações; produção de inferências locais; produção de inferências globais; recuperação do contexto de produção; definição de finalidades e metas da atividade da leitura; percepção das relações de intertextualidade; percepção das relações de interdiscursividade; percepção de outras linguagens; elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas; elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos.)

Estratégias: aula interativa, com a participação dialógica do aluno, com a preparação e conhecimento de conteúdos e estratégias por parte do professor, leitura em voz alta feita pelo professor.

Recursos: texto impresso, audiovisual.

Avaliação: observação das respostas dadas pelos alunos às questões feitas pelo professor.

Roteiro para aplicação da situação de aprendizagem

Passo 1- A atividade a seguir tem o objetivo de ativar os conhecimentos prévios.  Antes da leitura, o professor pergunta:

a)   O que vocês sabem sobre crônica?
b)   Em que veículo de comunicação o texto circula?
c)   Vocês conhecem o escritor Moacir Scliar?  
d)   O que sugere a palavra pausa referente no título do texto?
e)   De que tipo de pausa vocês acham que o texto vai tratar?

Passo 2- O professor inicia então a leitura do conto, fazendo pausas e perguntando sobre significados  de palavras ou referentes dos pronomes (produção de inferências locais).

Pausa

Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu,bocejando:
— Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
— Todos os domingos tu sais cedo — observou a mulher com azedume na voz. — Temos muito trabalho no escritório — disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
— Por que não vens almoçar?
— Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga. Samuel pegou o chapéu:
— Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Como pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah! seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente... - Estou com pressa, seu Raul - atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. - Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
- Aqui, meu bem! - uma gritou, e riu; um cacarejo curto.

Para que o aluno faça levantamento de hipóteses, o professor faz uma pausa aqui e pergunta:

f)    Onde a personagem está indo?

Para que seja feita a checagem das hipóteses, o professor continua então a leitura:

Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados; índio acabara de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor. Samuel tombou lentamente:ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já - disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
- Até domingo que vem seu Isidoro - disse o gerente.
- Não sei se virei - respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre - observou o homem, rindo. Samuel saiu. Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa. ¨

Passo 3- Após a leitura, para estimular o aluno a comparar as informações presentes no texto, o professor solicita aos alunos:  

g)   Expliquem a contradição destas expressões, referentes ao comportamento de Samuel:
“Não há tempo.”, “Estou com pressa.” e “...guiava lentamente. Parou um instante...”

Para que os alunos exercitem a capacidade da generalização, o professor faz a seguinte questão:

h)   O que você imaginou que Samuel estava fazendo quando mentia para a esposa sobre onde passava os domingos?

Se eles disserem que achavam que ele estava traindo a esposa, questione:

i)     Por que será que a maioria das pessoas pensa assim?

Para que o aluno produza inferências globais, questione:

j)     Vocês imaginam quem são as mulheres gordas? Por que elas o chamam?

Passo 4 - A fim de que o aluno perceba as relações de intertextualidade, o professor apresenta a música: “Cotidiano”, de Chico Buarque:

k)   Qual a relação de “pausa” nos dois textos?

Passo 5 - Outra atividade para que o aluno perceba as relações de intertextualidade será a exibição do filme “Click” em que o protagonista também quer fugir de algo.

l)     Os protagonistas do conto e do filme estão “pausando” sua vida para fugir de algo. Do que fogem? Comente.

Passo 6 -  Para estimular o aluno a elaborar apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos, o professor questiona:

m)  Comente a atitude do marido ao mentir para a esposa todos os domingos. É correto? Justifique sua resposta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: SSS: CENP, 2004. Texto apresentado em Congresso realizado em maio de 2004.
Alfredo Bosi, org. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1977. P. 275)
Música Cotidiano, de Chico Buarque,  disponível em:  
CLICK (filme). Frank Coraci, 2006.


Grupo de professores do encontro presencial:
Ana Lúcia Matthiesen Zutin
Andriws
Angela Maria de Santis
Carla R. B. Maffasoli
Célia Regina Custódio de Lima
Claudete Gonçalves Pires dos Santos
Denise Regina Denuncio
Edna Santos Mition
Franscislene de F. Naves
Maria Zélia R. Batista
Marilda Maisi
Marta Elisa Bueno Dias
Meiryellen Herling
Odirléia Regina Rimes de Souza
Rosane dos Santos
Sandra Maria Martins
Sandra R. S. Scheledorn
Suely Cristina de Souza Santos

Grupo de professores do encontro online
Suely Cristina de Souza Santos
Tânia Cristina Correia Pereira de Oliveira
Valéria Maria de Santana Lopes
Vanilsa Dangeli
Wilma Ioli Ribeiro Silva






3 comentários:

  1. Suely, a sua SA ficou ótima. Eu já a tinha lido, porém somente hoje estou colocando o meu comentário. "Apanhei bastante", mas não consegui colocar corretamente no Blog o texto sobre Gustav Klimt.

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